O País dos NOKIA

Não há em Portugal chefe de família que se preze, que não disponha de pelo menos três telemóveis. O mais grave resulta ainda da vontade de não se ficar por ai, aguardando a próxima baixa de preço do modelo há algum tempo debaixo de olho; os fabricantes de telemóveis utilizam a estratégia de baixar os preços dos modelos anteriores de modo a que aos olhos do consumidor pareçam baratinhos.

Como devem recordar-se o 1.º Ministro visitou a Finlândia, País que enalteceu e que apontou como referência, especialmente no respeitante à educação. Embora seja um facto que a prosperidade da economia finlandesa resulta de um investimento (desde a década de 70) numa educação sólida de qualidade, talvez não ocorra ao 1.º Ministro que há diferenças estruturantes tão profundas, que nem o desconto da propaganda consegue disfarçar.

Há alguns dias tive oportunidade de ouvir os comentários de uma auxiliar de acção educativa, inadvertidamente atacada por umas quantas pulgas que, mesmo após desinfestação, resolveram abandonar a "caixa de ar" que serve de isolamento aos tristemente triviais pavilhões, onde milhares de crianças e jovens têm aulas neste País. A coisa parece sinistra e a realidade pode ser confirmada com um contacto telefónico para a EB1 D. Francisca de Aragão em Quarteira. Para abreviar a descrição da macabra história dispenso detalhes:

As aulas decorrem em pavilhões;

Existe um espaço entre o solo e o tabuado onde grassa numerosa bicharada que procria abundantemente: pulgas, ratos e alguns gatos (uma cadeia alimentar no mínimo original);

Amíude existem desinfestações, mas os bichos dominam os cantos à casa e após os ataques químicos ao bunker, dirigem-se em romaria para o interior das "salas";

A temperatura nas referidas "salas" a partir de Junho supera 35º C, o que como calculam, é óptimo para a bicharada.

A caminho da Finlândia (caminho de acesso aos pavilhões Nokia)

Pavilhão Nokia 1

Pavilhão Nokia 2

Pavilhão Nokia 3

Há, no que ao ensino público diz respeito, que repensar seriamente se é mais correcto incentivar um chefe de família a caminhar alegremente para o 4.º telemóvel, ou se devemos desincentivá-lo para além do primeiro, sugerindo-lhe uma contribuição simbólica para a qualificação do ensino em Portugal (garantindo o Estado o pagamento dos que não podem contribuir). O argumento da Constituição tem sido muito usado pela esquerda para justificar a manutenção do serviço público gratuito, mas penso ser urgente que a esquerda encare a possibilidade do preconceito matar o ensino público.

A Finlândia não se fez com patos bravos, embora tenha abundantes lagos.

Ora, vejam como se faz:

Escola 1

Escola 2

Escola 3

Sócrates ficou surpreendido quando soube que na Finlândia os melhores alunos querem ser professores, é pena que não lhe tivesse ocorrido que em Portugal, não só os alunos fogem da Escola, como os professores não tardarão a seguir o seu exemplo. A menos que optem pela via do gabinete no Ministério da Educação. Aí sim, trata-se de organizar papelada, não se tem a chatice que os miúdos sempre acarretam, há aparelhos de ar condicionado (mesmo que sejam da classe B, o Estado paga à EDP), o tempo de serviço conta para todos os efeitos e nas horas vagas (muitas) dá para fazer intriga palacina. Uma papa com os condimentos a que este PS (o outro teima em não se levantar e qualquer dia começamos a ter dúvida em relação à sua existência) nos habituou.