O Material didáctico
Uma das questões que preocupa alguns profissionais do ensino é a escassez de material didáctico. Na verdade, todos os políticos que passam pelo Ministério da Educação falam em qualificar o ensino e em torná-lo mais eficiente. Supostamente o material didáctico deveria contribuir para essa eficiência, ideia que facilmente ocorreria a qualquer um, após um ano de frequência (mesmo sem grande sucesso), numa Escola Superior de Educação. Acontece que pegou de estaca, como doutrina, o princípio de que outra qualquer formação faz perfil para cargos políticos relacionados com educação. Continuamos também por esse facto muito mais próximos do "cuspir na pedra" (em algumas escolas em que a ardósia foi substituida por aglomerado de madeira pintado de preto, estamos até mais atrás em termos de eficiência), do que de salas de aula devidamente equipadas. Parece portanto existir uma incongruência entre as intenções (expressas nos discursos e nos ambiciosos objectivos) e a realização da "obra". Porém, na verdade, há um pressuposto não explícito em algumas cabecitas iluminadas que é mais ou menos este: Para ensinar os pequeninos chegam coisas de somenos. Quanto mais pequenos, menos precisam; por isso é que os bebés quando nascem se levantam e vão à vida com total independência (eu até me admiro como é que alguns não se levantam e não caminham logo em direcção à 24 de Julho). A ideia parece bizarra, mas é importante ter presente que os caciques (sempre muito influentes) são pessoas que gastaram e gastam muitas pestanas em observações naturalistas, o que lhes permite chegar a teorias no mínimo originais. Vai daí, nada que um bom professor não resolva, é o que frequentemente lhes ocorre e, se confrontados com a evidência da necessidade de material didáctico facilitador da aprendizagem, soltam com infinita segurança um discurso do tipo: Um bom professor é aquele que faz de computador com internet, vídeo, televisão, livros, jogos... durante, pelo menos, 5 horas diárias. É por tudo isto e por todos esses que a realidade nas escolas do 1.º Ciclo ultrapassa largamente a ficção:
1 quadro preto;
1 manual;
1 giz (às vezes daquele barato que guincha de encontro ao aglomerado tal qual porco em banca);
Muita (mesmo muita) burocracia: projecto de escola, projecto curricular de turma, plano de recuperação, plano de acompanhamento, registos de avaliação, adaptações curriculares, formulários on-line só acessíveis entre as 4 e as 6 da manhã...
Não podemos levar a mal, afinal são convicções resultantes de inspirações minimalistas, o que para além de ser moderno, permite disponibilizar verbas importantes para fins mais nobres (para não vos comover prefiro omitir quais).
Porém nem tudo está perdido. Algumas empresas americanas (Microsoft e Apple) preparam-se para lançar nos países pobres (mas com petróleo) um computador a 100 dólares, que funciona à manivela e permite o acesso à internet (eles antecipam-se sempre, vendem o pc baratinho, enchem aquilo de publicidade e, quando os pobrezinhos tiverem algum do petróleo, já têm a cabeça feita).
Cá está ele! porque espera? Vá poupando durante os anos em que marca passo na carreira por via das quotas e ofereça aos seus alunos sempre que se portarem bem. Ora, observe a máquina de perto. Terá a net da SAPO - Adsl? ou será a carvão? Que é que isso importa, os pobres apreciam navegar devagar ...e ele é lindo de morrer!
1 comentário:
De facto o material que prolifera nas nossas escolas prende-se com a elevada burocracia e então quantos mais papéis, mais sucesso escolar! Carradas de bichinhos de prata a juntar a tantos outros já mencionados anteriormente.
A escola deveria dar o exemplo e formar os seus alunos na consciência ecológica... tantas árvores e tanta energia desperdiçadas!
Há um ano no Jornal de Notícias lia-se "O ambiente nas escolas melhorou enormemente, não foram encontrados quadros de giz!" E esta heim? Mais um brilhante estudo de uma menina socióloga a caminho do doutoramento!
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