terça-feira, agosto 29, 2006

A gripe das aves

Sempre que o "ensino regular" espirra, o "ensino especial" fica acamado a anpiréticos e infusões. Até aqui nada de novo. Acontece que desta vez a infecção
(e que infecção...) instalou-se e fustigou Image Hosted by ImageShack.uso paciente, com a sua desmedida virulência. Mesmo que as enfermeiras fossem especializadas e o xarope aprovado por rigorosos critérios científicos, não se evitariam estragos de monta. Vamos por partes para perceber que daqui ao estado comatoso vai um saltinho de pardaloca (no estrito sentido de ave):

1 - Os Lugares de Quadro
Criaram-se lugares de quadro em educação especial (sem pompa nem circunstância para não dar no olho), como quem um dia lhe dá na cabeça e cria perús para esfaquear no Natal. A incúria foi desmesurada e veio a revelar-se aguda na atitude de indiferença dos responsáveis pela decisão, perante a seriedade com que a mudança deveria ter sido encarada. Mas... Qual quê? Nem uma palavra sobre o assunto. Para qualquer pessoa com frequência e aproveitamento no ensino básico, no mínimo, os professores e os pais deveriam ter direito a perceber o que pensa sobre isso quem assim decidiu. Porém, a única ideia que veio para o papel foi a seguinte: Estes professores perdem o regime especial de aposentação, porque têm redução à componente lectiva. Isto é, quem durante vinte ou mais anos não teve a referida redução, perde a contagem desse tempo. Claro que os docentes com mais tempo e experiência em ensino especial perceberam que estavam a "ser convidados" a sair (dois coelhos de uma só cajadada). Provavelmente divertem-se com a caça ao pau, convencidos que que lidam com coelhinhos e coelhinhas de capoeira.
Simultaneamente à implementação destas medidas reveladoras de "visão de futuro", reduziram drasticamente o número de professores de ensino especial. A explicação é no mínimo convincente: "Não podemos ter tantos alunos com Necessidades Educativas Especiais". Assim!
Esta gente sente-se de tal maneira instalada no poder que não lhes ocorre mais que: Eles que saltem de providência cautelar em providência cautelar, que nós (qual batráquios), saltaremos de nenúfar em nenúfar papando tudo que é insecto.
Cuidem-se, porque eu temo que eles(as) não tenham mesmo mais nada para dizer.
Cuidem-se duplamente, porque eu temo que eles(as) não dizem, mas pensam qualquer coisinha. E uma das coisinhas graves que pensam é que compete ao professor titular de turma lidar, sem o mínimo de ajuda, com várias problemáticas que teimam em não considerar NEEspeciais.
2- A saga dos relatórios individuais
Sobre esta tristeza nem sobraram lágrimas para derramar. Uma amálgama de ignorância e teimosia. Resultado: os relatórios voltam a não aproveitar a ninguém. Do que se consegue perceber a coisa é pensada assim: Os números referentes a alunos com NEE são muito elevados, então mandam-se fazer uns relatóriozitos com umas categorias xpto, uma coisa que ninguém perceba muito bem (também que é que isso interessa). Assim, ficam todos com ar embasbacado a falar uns com os outros e ... pimba: Corta-se nos professores para o ensino especial. Entretanto, para a coisa render, colocam-se umas educadoras (que elas até já se resignaram com o calendário escolar, coitadas...) em Escolas 2,3, adaptam-se umas salinhas e tal... (de preferência coisas apertadinhas, que o frio costuma ser bravo no Inverno) e zás: Um grupinho de deficientes por cabeça! Não me surpreenderei minimamente se das cabecitas iluminadas escorrerem coisas deste tipo. Preparem-se para o pior. Como todos sabemos esse tipo de soluções justifica-se pontualmente. De forma alguma devem ser generalizadas respostas educativas segregadoras, sem o mínimo de suporte científico (talvez seja conveniente dar uma olhadela pelos livros).
3- Equipas de Coordenação dos Apoios Educativos
Um tabu risível. Como se ficar em meias tintas inocentasse a mão invisível do(s) decisor(es). Destas decisões pretenciosamente Salomónicas (ainda bem que não há bébé), a única coisa que ressalta é que "a bota não bate com a perdigota". Melhor, "a bota bate sempre nas mesmas perdigotas".
Perante este faz de conta, resta às pessoas fazer uso daquele ar complacente, como quem diz: Tenham piedade, eles(as) não sabem o que fazem (até parece!...).
Bom ano de trabalho!

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