Prendas de Natal

Quem ficar perto de mim durante algum tempo, percebe facilmente a dificuldade que tenho na orientação espacio-temporal. Sempre lidei mal com mapas, croquis, perpendiculares e paralelas em cidades. Em tangentes e secantes especializei-me quando vivi em Lisboa, mas essa é uma história que não me interessa trazer ao post e que em nada contribuiu para atenuar o meu crónico "despassaramento". Associada à dificuldade, ficou-me da infância o síndrome do carrossel "Araújo", adquirido num belo dia de feira na vila, enquanto montado numa girafa de pau, com um sorriso de orelha a orelha, ouvia: "Jésus Cristo!... Jésus Cristo!... eu estou áqui". Que viagem! Passados três ou quatro "cabeços" daquela roda infinita, "descomi", em golfadas, um ensopado de borrego, enquanto um espesso suco gástrico abrilhantava o longo pescoço do animal. Fiz do acontecimento um back-up tão rigoroso, que ainda hoje tenho um arquivo com o episódio.

Provavelmente por tudo isto, tentaram oferecer-me um gadget do tipo: carrega na tecla que eu levo-te ao lugar certo. Tentei demover a putativa oferente, mas acabámos a ouvir o cantar do vendedor. Conversar, mirar e manusear, levou-me uns sofridos quarenta minutos. Mas valeu a pena; fiquei convencido que, caso tivesse adquirido o objecto, seria candidato a embalar-me em contra-mão, numa qualquer auto-estrada, ao som da voz melada daquela rapariga que amiúde "dizia":"à droit..."; à gauche...". Um perigo a evitar! Pela doçura da voz e porque, com tanta volta, até a girafa me apareceria na área de trabalho...