Como manda a tradição da minha consciência gastronómica, voltei para voltar a provar os pastos tenros convertidos em borrego. Poupei-me à morosidade do processo de síntese e encontrei o animal, como de costume, devidamente esquartejado e envolvido nos triviais condimentos que o campo, por lá, ainda vai dando. Para alisar as papilas gustativas da aspereza que a cidade lhes impõe, havia Mouchão tinto. Generosa terra...
Até aqui tudo como dantes, mas à primeira garfada. ..Opss!
- Eh pá! Está divinal, mas um pouco mais seco que o habitual...
O que se segue não é ficção, não resultou da euforia do companheirismo, nem emanou da cor tinta do líquido. A conversa aconteceu mesmo e, o que aqui escrevo, corresponde integralmente à verdade.
Conversa a propósito da secura do bicho e da "AZAR"
"Eu" para "eu" e "C" para companheiros(as). Cá vai:
C1-Sabes? Andou por cá a "AZAR"!
Eu - Hum?... Então?
C1-O borrego já não pode ir ao forno da padaria.
Eu-Não me digas... Ai!! A Asae?!
C2-Isso é lá para o Algarve, aqui é a "Azar". Mas os homens até têm razão...
Eu-Expliquem lá isso que eu não estou a perceber...
C2-Dizem que há uma bactéria do tempo do paleolítico que, mal apanha o calor dos feixes de lenha, ganha asas, salta do borrego e esconde-se no forno para depois voar para o pão.
Eu-Porra! ainda me fazes deitar o vinho pelo nariz!
C3-A puta é tão valente que resiste a carradas de lenha de azinho em brasa. Depois fica cheia de calorias e a pessoa que come o pão... encalorece!
Eu- Eh! Eh! Mas afinal... qual é a justificação que os homens dão para a proibição?
C3- Ninguém sabe... devem ter dado uma explicação do tipo: A bactéria "azarinocarcicotomeia" devido à sua incidência patogénica por via de amidos e fermentóides... E tás a ver o "----" lá na padaria com a pá do forno na mão...
Eu-É nestes detalhes carregados de exageros que eles entornam o caldo...
C2- Aqui entornaram-no quase todo. O bicho está para o lado do seco...
Eu- A propósito... passa aí o tinto.
De regresso dei comigo a tentar encontrar uma "justificação razoável" para que se fustigue uma comunidade que pela Páscoa costumava juntar-se nas padarias com os seus assados em vasos de barro. Muitas dessas pessoas, com mais de oitenta anos, recordam-se dessa prática desde crianças...
De regresso, depois de alguns quilómetros de auto-estrada, fez-se luz em mim...
Provavelmente a purga fundamenta-se na lenda e, de acordo com ela, no dia do assado, o bicho rejunta-se, rejuvenesce, ganha pele, lã e alma e capacidade para defecar. Na madrugada do dia seguinte, por entre balidos inaudíveis -com o forno fechado bem poderiam berrar- enchem os pães de caganitas. O calor do forno não deixa vestígios, mas o mal está feito: a bactéria estará irremediavelmente entranhada no fermento de pães e papossecos...
Estamos portanto no domínio da ciência da caganita.
Surpreendidos? Então investiguem os cursos que mais recentemente abriram no ensino superior. Investiguem lá isso bem...
1 comentário:
detesto estes exageros da asae...
é preciso fiscalizar (porque não se ficam pelas cozinhas dos restaurantes???) e deixar o povo em paz com as suas tradições!!
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