Um dos chavões mais utilizados ultimamente a propósito da degradação da qualidade do ensino/educação, tem por base o preconceito de que introduzindo mais exigência no sistema se resolveria boa parte dos problemas. A ideia aparece em oposição à cultura reinante na plêiade que há largos anos se instalou no Ministério da Educação e que não desiste de apreciar a balada, cujo refrão é sobejamente conhecido: "Os Cavalos a correr e as meninas a aprender".
Aquando das comemorações de Abril, os políticos, os que ainda têm a coragem de enaltecer o acontecimento histórico, deveriam aproveitar para fazer um balanço sério a propósito do desiderato que a qualidade do ensino deveria constituir. Para além dos chavões mistificados: da exigência, dos "chumbos" e das "passagens", dos professores que trabalham pouco, do cheque ensino, da excelência do ensino privado, da escola a todo o tempo... Para além disso, pouco, muito pouco se fala.
Por isso mesmo, vamos aqui deixar algumas constatações que, julgamos, poderão ajudar a decisões políticas mais ajustadas no futuro.
A Escola de hoje compara tão favoravelmente com o Mundo exterior, como comparava antes do 25 de Abril?
Compara muito mais desfavoravelmente:
- A Escola hoje é para todos (da Ásia, à África, passando pela Europa de Leste e pela América do Sul e chegando a aterrar em miúdos de ninguém). Antes do 25 de Abril era só para os que supostamente aprenderiam com maior facilidade.
- A televisão era a preto e branco e o programa mais visto era "Conversas em Família". Hoje um vídeo-jogo a preto e branco vai directo para a lixeira.
- Os edifícios escolares poderiam ser observados sem constrangimento. Hoje temos barracões que envergonham qualquer pessoa minimamente sensata.
- As famílias colaboravam com os professores e, por vezes, exageradamente, mimavam-os com inúmeras e generosas ofertas. Hoje mimam-os com dossiers A4 (de lombada larga e capa dura, para não restar equívoco).
Perante o conjunto de factores tão adversos à qualidade, que mais poderiam fazer os professores para além de se defenderem, baixando o nível de exigência?
Os responsáveis políticos até sabem que miséria atrai miséria, mas temeram pedir contas aos cenógrafos que, de ideias esféricas, foram erguendo estádios de futebol e "apitando" para o lado. É nesta mentira cúmplice que está a origem dos chavões.
1 comentário:
Obrigada pela visita e voltarei para ler com mais calma. Beijo até breve.
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