quarta-feira, agosto 13, 2008

A Universidade das crianças

Os responsáveis pelo projecto que visa estimular os alunos para que sejam os "melhores", propõem pôr a funcionar em Portimão uma escola do 1.º ciclo para sobredotados. O presidente da Associação Nacional de Pedagogia da Universidade da Criança refere, com convicção, a importância das crianças aprenderem xadrez e filosofia e terem direito a um computador portátil. Da Direcção Regional de Educação do Algarve levantam-se fundadas dúvidas e legítimos receios, o que tem justificado a demora no licenciamento. Os interessados manifestam descontentamento pela demora, esquecendo que aos melhores cabe ser justo e que o pioneirismo, em experiências que envolvem crianças, requer ponderação e acompanhamento adequado e permanente.


Conhecia a campanha de marketing há algum tempo e nunca me entusiasmei muito com a conversa; duvido que os sobredotados dêem à costa em Portimão a ritmo que permita abrir uma escola. Desde que ouvi falar na "Universidade das Crianças", tomei a coisa como uma bem engendrada campanha publicitária, visando angariar clientes (sobredotados e nem tanto). Porém, desde que haja informação séria aos pais - e a Drealg certamente vai providenciar para que tal aconteça -, cada um correrá os riscos que bem entender. Gostaria a este propósito de deixar algumas perguntas:

- Caso algumas das crianças venham a revelar problemas comportamentais (comportamentos disruptivos), a Universidade garantirá o acompanhamento devido, ou recorrerá ao serviço público?

- Qual a formação mínima exigida aos técnicos especializados?

- Quantos psicólogos?

- Há alguma evidência científica relevante que sustente o projecto?

- A ideia da filosofia, do xadrez e do portátil não chega. Qual o currículo a desenvolver?

- Da Drealg dispensarão: Regulamento Interno, Projecto Educativo, Projecto Curricular de Escola, Projecto Curricular de Turma, Plano Anual de Actividades?

- Não existirá nas imediações uma Escola Pública, com professores mais experientes, que constitua elemento facilitador de um relacionamento próximo com outras crianças (aquelas com quem vão ter de se relacionar ao longo da vida; as "normalzinhas")?

- Haverá novas oportunidades para estimular um desenvolvimento harmonioso dos 5 aos 9 anos?

PS1: Cautela e caldos de galinha...

PS2: Baseado na minha experiência profissional, posso garantir-vos que o ensino público já tem filosofia, no 1.º ciclo, há muitos anos...

7 comentários:

Carla disse...

Se eu tivesse um filho assim de certeza que me assustava...em Portugal não há condições para o desenvolvimento destas crianças...

bjs

saltapocinhas disse...

tenho muitas reservas em relação a este tipo de ensino...
além disso, crianças sobredotadas são crianças com algum tipo de problema.

já tive alunos que se destacavam e o que fizeram foi encurtar a escolaridade de 4 para 3 anos!

José António disse...

Shakti, em Portugal há condições como há em outros países, o problema aqui é que, supostamente, os alunos sobredotados ficariam concentrados. Porém, para acompanhar devidamente os alunos sobredotados, devemos ter um professor especializado nesse domínio (não sei se haverá algum no Algarve) e um psicólogo. Acontece que, para esse acompanhamento ser eficaz, deve acontecer em articulação com o professor e a família e o número de alunos a companhar não deverá ser elevado.

José António disse...

Saltapocinhas, mesmo que seja um sobredotado a sério, poderá ser acompanhado no ensino regular, na escola pública. Poderá, se for caso que justifique, ter um Programa Individualizado e poderá "fazer", como dizes, o 1.º Ciclo em menos anos.

Anónimo disse...

Como professora do 1º ciclo e mãe de um "sobredotado" (raciocínio lógico)fico muito preocupada ao ouvir essas notícias, pois parece-me que estamos a criar escolas especiais para anormais, à semelhança das escolas de "ensino especial" para crianças com algum tipo de deficiência. Pelo que sei, e penso que já se faz nalguns países, os sobredotados devem andar no ensino regular, com as crianças da sua faixa etária (o desenvolvimento afectivo é idêntico). Depois das aulas, em horário extracurricular, frequentam outros estabelecimentos de ensino (que até podem ser universidades) onde, juntamente com os seus pares, desenvolvem projectos e/ou adquirem competências específicas da área onde demonstram mais capacidades (sobredotação). Assim aprendem que não são os melhores, que há outros como eles e que a escola não é sempre uma "seca".

Anónimo disse...

José António, ao meu filho foi-lhe diagnosticada a "sobredotação" aos 4/5 anos, quando foi para a escola levava dois relatórios ( do CPCIL e de uma psicóloga da Estefânia), nunca foi acompanhado pela equipa de EE (ECAE), não chegavam para os alunos com dificuldades quanto mais para quem já lia, interpretava, operava,... Por esse motivo ele desenvolveu muitos dos aspectos negativos dos "sobredotados" em termos de personalidade (havia nas escolas do 1º ciclo um livrinho do ME/IIE sobre isso) e ficou sempre com deficiências ao nível das competências na área de Língua Portuguesa.

José António disse...

madr, o que relata coincide com o que na generalidade dos casos acontece. Refere que o seu filho apresenta algumas dificuldades ao nível da Língua Portuguesa, estabelecendo relação directa com a inexistência de apoio adequado, na altura devida. Não sei exactamente que tipo de dificuldades, mas, caso queira trocar opiniões sobre o assunto, pode utilizar o e-mail (jarcorreia@gmail.com).

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