quarta-feira, julho 28, 2010

Boas borlas...


Em educação tudo acontece, para a maioria das pessoas, de forma tão lenta que os mal educados só dão em muitas vistas por volta da adolescência. É por isso que a educação compara desfavoravelmente com a saúde e favoravelmente com a justiça, mas isso é outra história da qual não quero trazer para aqui nem o ritmo, nem sequer uma só personagem das peças sobejamente conhecidas. Adormeceríamos a ouvir o interminável carpir da agulha ao coser os processos.
O longo prazo que a educação comporta conflitua com os curtos ciclos políticos, com excepção para o de Alberto João Jardim. Talvez também por isso a matéria original tenha sido  revista  com a leveza que a Constituição pós 25 de Abril recomendava. Não é que duvide da alma generosa que inspirou a pena dos Constitucionalistas em 1976 , mas estou certo que enquando idealizavam as gratuidades ainda se almoçava à borla. E também tomo por verdade que Marcelo e companheiros não associaram gratuidade a mediocridade. Provavelmente estariam convictos que romanceando(1) ganhariam adeptos para causas altruístas. Ora, como sabemos, no que à Educação/ Ensino respeita, a gratuidade romanceada deu no que deu. E por mais que nos  martelem a cantilena do Estado Social, convencidos que a repetição da mentira trará a luz, importa explicarem porque é que uma escola pública gratuita a funcionar em pré-fabricados grafitados com tejadilhos de amianto é boa e uma Escola com espaços dignos e apropriados, não gratuita, é má e não pode constituir Estado Social. Já conheço a resposta: a primeira é serviço público e a segunda "é do privado". Pois é, mas  a verdade talvez more longe do "grande público": a primeira?! a primeira é comummente desperdiço público! A segunda, embora possa ser paga por quem pode, poderá oferecer serviço público para quem dele necessite. E poderá ter espaços verdes cuidados, pavilhão para actividades desportivas, salas de aula bem proporcionadas e bem apetrechadas e até poderá oferecer respostas educativas mais alargadas e mais qualificadas.
Quero com isto isto escrever que os pobres deverão pagar a educação e o ensino? Não, quero escrever que devem ter direito a uma educação mais condizente com o romance (onde está o ensino pré-escolar universal?) e a um ensino mais decente (em que gaveta estacionou a reestruturação curricular?).
E porque não continuar assim: tudo muito grátis, tudo muito amiantado, tudo muito "está-se bem que a gente cá se entende". Será que podemos continuar assim? Podemos, mas é a mesma lousa!
Não se trata de acreditar que ajudando crianças e jovens a serem cognitivamente mais desenvolvidos lhes daremos mais hipóteses de serem felizes; muitas vezes a relação é propocionalmente inversa. Trata-se de constatar que, sendo pouco desenvolvidos cognitivamente, no contexto global, mesmo que se escondam numa sossegada planície dormitando durante o pastoreio, habilitar-se-ão a ser mais frequentemente enganados nos trocos. É que a dádiva de uma certa ignorância, a que permite pagar aos chicos espertos, torna-se dívida. E esta dívida a que me refiro, que consiste na negação de um serviço público de qualidade, está na Constituição como se fosse superávit. E isso é uma grande mentira...




(1)"O Estado promove a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida colectiva".

Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Contador

Este blog possui atualmente:
Comentários em Artigos!
Widget UsuárioCompulsivo
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...