terça-feira, junho 13, 2006

Aula de Matemática

Passo a comentar um vídeo que chegou ao "Blog" solicitando o meu comentário.
Infelizmente o que se pode ver não é caso único, mas o que verdadeiramente importa é perceber para poder intervir. Deveria ser sempre assim, perceber para intervir. Fácil é dizer coisas do tipo: "-Pais vão avaliar professores".
1- A Matemática, de mais difícil aprendizagem que a leitura ou a escrita, exige capacidades cognitivas, que devem ser estimuladas desde muito cedo. Exige da parte dos docentes uma adequada preparação das aulas, desde o pré-escolar (seleccionar, seriar, comparar... é matemática) e exige acompanhamento dos pais (não só acompanhamento dos trabalhos de casa, mas também valorização dos pequenos sucessos, reforço positivo para comportamentos positivos e reforço negativo com vista a inibição de comportamentos indesejados).
2- A Matemática lida com símbolos pouco significativos para uma criança de 5/6 anos. Uma palavra escrita (embora seja também um símbolo) tem uma representação imediata.
Para um aluno conseguir aceder com sucesso aos conteúdos curriculares do 5.º ano (por exemplo) precisa de pré requisitos tais como (cálculo mental suficientemente desenvolvido, apropriação de regras inerentes ao sistema de númeração na base 10, sentido das operações desenvolvido a ponto de resolver situações problema...). A Matemática não se ensina a partir de coisa nenhuma, nem aos 5, nem aos 15 anos.
3 - Talvez a Matemática comece com a capacidade da criança se distanciar da figura materna. E essa desvinculação, mesmo para as crianças com ambiente familiar estruturado, corresponde sempre a um período de dificuldade. Crescer custa sempre, mas crescer em ambientes familiares desestruturados e sem o devido acompanhamento, deve custar tanto que a paciência para os números se esgota para a vida quase toda.
4 - Supor que a Matemática é para todos é um mito que se instalou. Tal mito prejudica todos, no entanto eu sei que muitas pessoas reagem mal quando confrontadas com a realidade. A Matemática não tem de ser para todos e é claro que não é para os alunos do vídeo.
Medidas:
1 - Apoio a famílias carenciadas. Seria conveniente que este apoio se alargasse a aconselhamento.
2 - Grande investimento no pré-escolar e no 1.º Ciclo (é aí que se define muito do futuro das aprendizagens). É inacreditável como a Universidade vira as costas às crianças. Tanto grau académico na área educacional e crianças nem vê-las.
3 - Condições dignas nas Escolas. A Matemática não é para se ensinar a partir dos manuais, é para se construir (passo a passo). Quantas crianças manusearam um ábaco? Reparem, refiro-me a um ábaco.
4 - Cursos alternativos a partir do 5.º ano (o que existe é muito pouco e francamente insuficiente).
Nota final: O vídeo é um cenário triste, demasiado triste, mas demasiado sério. A vida daquela professora é um inferno e sempre que ela pensa que tem de dar aquela aula... imaginem. Os pais daqueles alunos teriam de ir à escola a partir dos primeiros comportamentos de risco (agora deve ser tarde). A questão da disciplina resulta em boa parte da desautorização dos professores (aqui a Ministra não tem ajudado nada) e aquilo que se vê ultrapassa o razoável, ninguém aprende assim. A prof.ª não tem condições mínimas para dar aulas e, para recuperar aqueles alunos, há muito a fazer.
Haverá serviço de psicologia naquela Escola? E prof. de Apoio? E Cursos alternativos? E professoras que possam ajudar aquela professora? E C. Executivo?
Uma coisa não haverá certamente: aprendizagem.

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