segunda-feira, junho 05, 2006

Vamos lá olhar para o estatuto

Amanhã é para muitos o "dia da besta" - 06-06-06. Para além de não ser supersticioso, acredito pouco em bestas. Porém aceito que alguns dias são infelizmente talhados para nos parecerem bestas. Uma coisa é certa: os professores atravessam o "período do cão" e, como quem não ladra não morde, decidi hoje, que ainda não é o dia da besta, ler tudo isto com atenção. Julgo ter a vantagem de poder olhar com a distância de 27 anos de carreira.
Talvez seja importante afinar algumas ideias:
Agora com os blogs temos a vantagem de ser jornalistas e assim podermos entervistar-nos, o que representa vantagem para nós e desvantagem para os jornalistas. Imaginem que estes eram avaliados pelos leitores. A coisa poderia funcionar mais ou menos assim: Compravamos o DN (o Público não, jamais um professor sensato compraria o jornal de Belmiro de Azevedo). Como todos sabemos é de mau tom ler para além da 1.ª página antes de comprar. Portanto compravamos o DN, cuja primeira página referia entre outras coisas mais ou menos irrelevantes, que Scolari chamou escritor da bosta a Miguel Sousa Tavares. Depois de comprado reparávamos que entre a página 5 e 8 tratavam de "malhar" nos professores. Bem aí seria altura de pegar na máquina de calcular, dividir o preço total pelas páginas e voltar à loja para reclamar o desconto de 3 em 18. Caso a rapariga da loja fosse encarregada de educação de um dos nossos alunos a reclamação ficaria para depois e as próximas compras teriam de ser feitas no quiosque ao lado.
Vamos lá
-Os professores temem a avalição?
-Não, os bons professores anseiam há muito por uma avaliação justa.
-Considera que as propostas da ministra vão ao encontro dessa avaliação justa?
-Na substância pretendem fazer passar para a opinião pública o que se supõe ser comestível, uma coisa tipo sumos e salgadinhos (onde é que eu já li isto?).
-Seja preciso, porque não são justas?
-Não só não são justas como têm aspectos contraditórios. Vamos ver, está lá escrito que um professor de uma escola degradada de um bairro periférico será penalizado (acha justo?). Está lá escrito que um professor a quem é atribuida uma turma mais complicada é penalizado (acha justo?). Aqui temos ainda para além da injustiça uma enorme incoerência. É que a ministra tem dito com alguma mágoa que as melhores turmas (aquelas que integram os bons alunos e filhos de funcionários da escola) são atribuídas aos melhores professores. Sabe, aqui no Algarve há uma expressão muito do mar: Pela boca...
-Morre o peixe!
-Certo!
-São esses os aspectos que considera negativos?
-Estes considero injustos e contraditórios e há um outro que considero que decorre de ignorância pedagógica. Querer os pais a avaliar os professores não lembra a ninguém que perceba de educação. E utilizar o "argumento que os analfabetozinhos também têm direito"... Inqualificável!
-Mas os pais não devem participar na vida da escola?
-Devem acompanhar diariamente e participar activamente. Alguns pais precisam mesmo de aconselhamento para ajudarem os seus filhos. Repare, o modelo económico para que caminhamos é pouco compatível com uma envolvência sócio-familiar facilitadora das aprendizagens. Eu quando oiço a Ministra fico com a ideia que ela imagina que uma criança está sempre disponível para aprender, que é uma questão de "bom professor". Qualquer professor sabe que isso não é verdade. Infelizmente a Ministra da Educação não sabe.
-E considera alguns aspectos positivos?
-Considero que de uma maneira geral a penalização para todos os professores está presente em todo o documento, mas há aspectos que são francamente positivos como princípio.
-Seja explícito
-Criar regras para o acesso ao desempenho de algumas funções parece-me positivo. Não faz sentido que qualquer professor possa ser candidato a Presidente de um C. Executivo, por exemplo. Aqui há uma clara tentativa de qualificação do sistema.
Há um outro aspecto que vai no mesmo sentido que é a penalização para prof. que desenvolvam a sua actividade sem componente lectiva (destacamentos, comissões...). No entanto aqui os sindicatos vão-se atirar ao ar e, como os funcionários do M. de Educação, que são prof., também são lesados... Aqui a montanha deve parir um rato.
Vamos acompanhando.
Por razões de trabalho não lectivo a entrevista continua nos próximos dias.

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