sexta-feira, outubro 27, 2006

Almocreves da papelada

Por cada dia que passa a alma das escolas é galopantemente amachucada pelo frenesim dos papéis infestantes. Alhures, suspeito que próximo do estuário do Tejo, mãos secretas em teclados divinos, pretendem transformar professores em almocreves da papelada; um enredo que visa atanazar os desgraçados forçando-os a tarefas menores. Tudo poderia ser tão pouco grave como rubéola fora da gravidez, não fosse dar-se o caso dos professores trabalharem em educação. Ninguém, no seu perfeito juízo, imagina um bom educador atafulhado em papéis. A piada da história decorre do facto dos defensores de tal ocupação serem os mesmos que acham escandaloso os pais alaparem-se no canapé para duas horas de "Expresso", enquanto os filhos papam a Cérelac da SIC.
Claro que há absoluta necessidade de formalizar através da escrita o que de mais importante decorre no processo de ensino/aprendizagem, como há necessidade de efectuar registos que visem constituir um precioso auxiliar para a compreensão desse processo em cada um. Contudo, não deixa de haver imperiosa necessidade dos professores estarem disponíveis para os seus alunos. Essa disponibilidade é incompatível com tanta burocracia e, não vale a pena deslocarmo-nos à Finlândia para compreender a incongruência. Espreitemos o sítio do Ministério da Educação dos nossos vizinhos espanhóis e facilmente compreenderemos que, os professores destacados no Ministéro da Educação para funções não docentes, se dedicam a actividades inequivocamente úteis e facilitadoras do trabalho dos professores. Por cá ilustres pensadores chegam a alvitrar, para além dos infindáveis e enjoativos projectos do "có-có-ró-có-có", planificações diárias; semanais; mensais; trimestrais, anuais... e talvez até minutais. Provavelmente inspirados no esforço de Marta Crawford - uma rapariga esclarecida que se propõe fazer um programa de TV para tirar todas as dúvidas sobre sexo - pedem papéis, papéis... a ponto de sepultarem em prateleiras, resmas de burocracia ineficaz, que uns insectos prateados adoram roer. A Marta, ainda ninguém explicou que a uma pessoa sem dúvidas nesta matéria, pouco mais resta que cumprir o plano. Ignorando a possibilidade de magia, a rapariga vê no esclarecimento a luz, o que é tão absurdo como planificar ao milímetro a actividade pedagógia. A pedagogia é por excelência a arte da relação e a relação excessivamente pensada tende para a subvalorização da emoção. A Crawford pode descontar-se a necessidade de chamar público, aos responsáveis máximos pela educação é preciso explicar que não se tem público atento e dedicado sem emoção.

2 comentários:

Anónimo disse...

Parece que ainda ninguém percebeu que quanto mais tempo se perder em papeladas menos tempo sobra para pensar e preparar aulas (estratégias e materiais) geradoras de motivação para a aprendizagem.
Urge acordar as mentes adormecidas!

Enfim... para onde caminhamos nós?

José António disse...

tic-tac já percebi que o teu relógio bate no ponto. O problema é que a trempe vê na Escola o corredor estreito que os conduzirá ao mercado de trabalho. Pobres crianças...

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Contador

Este blog possui atualmente:
Comentários em Artigos!
Widget UsuárioCompulsivo
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...