domingo, dezembro 03, 2006

Hoje tens a turma da...


Talvez não seja demais partir do pressuposto, para mim inquestionável, que às crianças, desde que entram até que saem da escola, deve ser garantida: protecção, segurança, qualidade de ensino e de educação, atenção e atitude pedagógica adequada, com vista ao sucesso educativo.

Para o efeito as Escolas deveriam dispor de recursos materiais e humanos adequados. Quando isso não acontece -e em boa parte delas não acontece-, cabe aos órgãos de administração e gestão afectar os recursos disponíveis visando minimizar esse problema fundamental que é a ocupação plena dos tempo destinados a aulas. Do Projecto Educativo deveria mesmo constar, a identificação da problemática e as várias possibilidades com vista à sua minimização ou resolução. Infelizmente o que se verifica é que em algumas escolas os projectos vão de A a Z, sem o mínimo impacto sobre este problema. Acontecem coisas insólitas, como na escola existir um projecto do tipo: "Dali é um pintor fixe". O título é interessante e o projecto provavelmente também, a questão está em saber se quando a prole tem fome, o pai faz bem em investir em quadros para decorar a parede.

O Ministério, ignorando a natureza do problema, começou por querer resolvê-lo, tentando impedir os professores de faltar, mesmo em situações extremas. Simultaneamente lançou a ideia da ocupação plena para além dos tempos lectivos. É nessa lógica que alguns dos projectos que anteriormente referi se inserem. Aqui começa o interminável disparate que conduz a profundas injustiças. Tomemos um exemplo para não nos afastarmos do real: A vice-presidente do C. Executivo da Escola X do Agrupamento vertical de Y, ocupa a sua componente lectiva num projecto Z. Até aqui tudo bem. A incongruência surge, quando a Presidente do C. Executivo pede ao Professor A que substitua a professora B, para dar cumprimento a parte da sua componente não lectiva. Das duas uma:

- Ou o professor A dá a aula com plano de aula e a seguir solicita o pagamento de horas extraordinárias;

- Ou o professor B não dá a aula e supervisiona os alunos em outras actividades.

Mesmo que o professor funcione como supervisor de actividades, pode acontecer que essas actividades estejam estreitamente relacionadas com a componente lectiva da Vice- Presidente ou de Assessor do Executivo do Agrupamento Vertical de Y.

Perceberam? Eu também não percebi porque é que para o professor titular é componente não lectiva e para a Vice-Presidente é lectiva.

A Ministra arranjou uma trapalhada sem fim à vista e o melhor que faz é emendar urgentemente a mão. Há milhares de professores por colocar, é perfeitamente razoável e possível, recorrer a esses docentes. Criar bolsas ao nível dos concelhos é o mínimo que pode ser feito, antes que o clima se adense. Supor que os professores se vão calar é como levar para casa um calhau da praia na esperança que venha a cantar como um canário.

4 comentários:

Anónimo disse...

Concordo plenamente contigo. Esta situação está a verificar-se em muitos agrupamentos que conheço!
Mas o pior, quanto a mim, é a desunião dos professores. Todos sabem o que este estatuto representa para nós e o que vai fazer das nossas vidas e mesmo assim, nas reuniões sindicais só meia dúzia de gatos pingados têm aparecido. E das duas uma: ou os professores estão descrentes da actividade sindical ou então já se adaptaram, quais camaleões, ao novo estatuto e mais uma vez, olhando apenas para o seu umbigo, estão já a fazer as continhas todas para ver quando é que chegam a titulares! :(
Sinceramente, desgota-me imenso pertencer a uma classe que de grupo coeso e solidário nada tem!

José António disse...

Percebo o que dizes, mas acredito que essa guerra do titular é Sol para durar pouco. A vantagem de ser titular, em meu entender, resulta da possibilidade de participação mais activa na vida da Escola, mas é perfeitamente possível participar com qualidade sem ocupar um cargo de coordenação. Essa guerra pode estar relacionada com um buraco na rede (as substituições). O que notas agora resulta da leitura que as pessoas fazem do novo estatuto. Na verdade o processo de avaliação vai fazer com que os mais fracos cedam a tentações. Eu acredito muito mais num clima de entreajuda e boa fé que deve começar ao nível do conselho de ano. Não tenho nenhuma dúvida disso. è uma questão de deixar assentar o pó. Em relação aos sindicatos não esqueças que este governo deu uma enorme paulada no movimento sindical e que não o fez por acaso.
Bom domingo para ti e pensa positivo.

saltapocinhas disse...

desculpa a ignorancia duma "professora primária" mas eu não entendo nada dessas trocas e baldrocas, do que é lectivo e do que é não lectivo...
Na minha santa ignorancia tudo o que se passa na escola que inclua professores e alunos é lectivo!!

José António disse...

Não te preocupes que não és só tu. Ninguém entende. Aliás o propósito parece ser o de espalhar a confusão para aumentar a carga lectiva. Isto é, a Ministra consegue fazer muito mais, com menos. Uma autêntica maga.

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