Por razões inexplicáveis fui ao Alentejo. É quase sempre por isso que lá vou. Acontece que desta vez estive num Lar para Idosos; quem aí está, sabe que quem vai, vai por pouco tempo. Quem vai, sabe que demorará até ao limite de poder sentir-se já lá. Portanto, o tempo aí é sempre uma síntese brutal à sensibilidade. Entrei com essa certeza na garganta e, mesmo antes de engolir em seco, já tinha C. (pai de um amigo de infância) a falar comigo:
- Lembras-te quando tu e o M. foram experimentar um "Taunus" azul que eu tinha e depois meteram uma porta toda para dentro? Belos tempos...
- Então não lembro!...
Depois saíram as lágrimas que C. já tinha preparadas, provavelmente desde que me viu.
Na verdade, teríamos 14 ou 15 anos e muito pouco juízo. Lembro-me até que um dos convidados, a meio do percurso, abriu a porta para sair mesmo com o tal "Taunus" azul em andamento.
Apesar da recordação dessa infeliz ocorrência, o que me gaseificou os pirolitos na caixa, foi o senhor "C" na sua cadeira de rodas, a considerar "um bom tempo" aquele em que dois "vândalos" se apoderavam da sua viatura, à socapa, e lhe a devolviam com uma das portas para dentro.
De mansinho, procurando outras rotações, alapei-me entre as almofadas do sofá e caí de borco numas chispas do passado, para ver se cerceava o gás nas gasosas, por via dos ouvidos.
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