quarta-feira, agosto 20, 2008

Galos de capoeira

Vivi, há uns anos, um conflito interno, algures situado entre a área dos valores morais e o novelo dos laços afectivo-saudosistas. Nessa altura queria dedicar-me à bicharada porque, desde criança, até ao ponto em que consigo lembrar-me, meti irremediavelmente a natureza pelos olhos da cara. Por um lado queria os bichos perto de mim, por outro sonhava mal em cima da possibilidade de um dia ter de os matar. Cheguei a pensar, para me auto-confortar, que talvez houvesse uma guerra e que a necessidade haveria de trazer-me coragem para espetar um qualquer objecto contundente numa galinha. Li sob o assunto e fiz amizade com um fervoroso adepto de Gandhi, que esperava sentado, de caçadeira em punho, uma distracção das aves. Porém, sobravam-lhe numerosos problemas, alguns bem visíveis nas paredes do quintal, outros nas nádegas dos vizinhos. Depois de ponderados riscos e benefícios, tive: galos, galinhas, patos, um faisão que o cão comeu e coelhos.
Os galos, poupados à faca, durante anos, atingiram um tamanho descomunal. Foi aí que eu percebi a guerra da Ossétia do Sul - embora ela ainda não tivesse acontecido - e algumas das outras. Para além de milho em barda e outras gramíneas, queriam várias galinhas, espaço na capoeira, cantar a qualquer hora e chegaram a confundir-me com um concorrente, esfolando-me para além da epiderme, com aquelas garras afiadas. Poderia facilmente ter dizimado a bicheza toda de uma vez, sem critério nem pudor, como nas guerras modernas dos não terroristas. Seria um herói para a vizinhança e cantaria como um -.

1 comentário:

saltapocinhas disse...

eu nem penso em ter animais "comestíveis" pelo mesmo motivo!!

nem em guerra eu os comia!!

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